quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

jardim árabe



Decidimos comprar o "Jardim Árabe" do manel costa cabral. Há vários anos que estava cá em casa. mas emprestado... Pouco depois de eu ter vindo morar para aqui ele disse-me que podia ir ao atelier dele escolher um quadro para cá pôr. ficava aqui "em exposição". se alguém o quiser comprar, vende, disse ele. agora que saiu da gulbenkian decidiu dedicar-se a arrumar a obra, talvez a voltar a pintar. um dia destes pediu-me para lhe mandar uma fotografia do quadro e aí eu estremeci. lembrei-me de como ele era precário, de como podia fugir-nos de um dia para o outro, porque alguém o comprasse, ou o manel o quisesse de volta, essas coisas. E compreendi como ele estava já ligado à nossa vida e à nosasa casa, de como nos seria difícil ver aquele vazio na parede.

O quadro é vários quadros, costumo eu dizer quando o apresento aos amigos. conforme a luz do dia vai revelando pormenores e texturas que parecem escondidas sob a imagem imediata. O verde profundo é mais profundo ainda do que parece: lá atrás da folahegm surge aos poucos uma nova folhagem. percebemos aos poucos que o vaso é o menos, que a folhagem é o menos, e que só esse mistério é o mais. é aí que o nosso olhar se perde, depois de se despre
nder dos pormenores à superfície. Gostamos muito dele e decidimos comprá-lo.
Num meile ao manel disse-lhe que consultámos a Sotheby e que o valor do quadro era de pelo menos cinco mil euros. mas que oferecíamos metade, preço de amigo, e mais umas bacalhoadas pelos anos fora. Ele disse que o desejo dele era poder oferecer-nos o quadro, mas que... ficava por mil e quinhentos se eu juntasse "leite creme à bacalhoada". Parecia que estávamos a regatear num bazar marroquino, mas aqui com o comprador a querer subir o preço.
O que não deixava de condizer com o quadro: o manel disse que o tinha pintado em 1989, depois de uma viagem a Marrocos, precisamente, quando visitou os jardins do Yves Saint Laurent em Marraquexe.

No Dia de Reis, que é o aniversário dele e do Eduardo, bela coincidência, vamos retomar uma já tradição de festejar aqui em casa os anos dos dois. Como já paguei a parte em dinheiro, começo nessa altura a pagar a parte em espécie, com uma bacalhoada de todo o tamanho. E leite creme, claro.

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