quinta-feira, 22 de setembro de 2011

família alargada

ontem o joão foi dormir a casa da filipa. já uma vez tinha dormido em casa do rodrigo e outra vez em casa da marta. mas era aqui ao pé da porta. desta vez era longe de casa. e, sobretudo, sobretudo, ia na carrinha da escola e voltava no dia seguinte com o gui também na carrinha. de manhã ao despedir-se de mim: adeus pai, até amanhã! Depois na escola contou a toda a gente. E disse à Cereja que "ia ajudar a filipa em tudo" – isto porque lhe pedimos para não discutir com o gui, nem teimar com os brinquedos, como às vezes faz. Às tantas recebi um sms da filipa a dizer que estava tudo a correr lindamente. Houve uma disputa por causa de um carrinho e diz o joão para o gui: nós somos amigos, ok? Somos da mesma família e somos amigos, ok? E o gui: ok. Assunto arrumado.
é a melhos maneira de aprender que muitas vezes a nossa real família somos nós a escolhê-la, e nela se incluem tanto alguns parentes como alguns aderentes.

Este ano a escola é muito diferente: alguns pais, empurrados pela crise levaram os filhos para a escola pública. da sala do joão saíram vários amigos para o 1º ano. da idade dele ficaram só a matilde, o tiago e a carolina. e entraram muitos meninos muito novinhos. Vê-se que o joão está impaciente por começar as "histórias da matemática" e outras actividades dos mais crescidos. E que se impacienta um pouco por não ter sido ainda possível iniciar algumas das rotinas da sala: o plano do dia, as discussões do conselho de sala... A Marta disse-me que este ano tudo será necessariamente mais lento: o ritmo será muito marcado pelos mais pequenitos, que este ano são particularmente novinhos. Nota-se a pressa do joão: escreve o abecedário, compõe palavras (às vezes ao calhas) no tabuleiro de letras magnéticas. Quer ler, quer andar para a frente. Se lhe digo que não é assim que se escreve, por exemplo, riposta: mas em "volante" escreve-se assim. "Volante" é uma ficção que ele arranjou (mais uma): é a língua que se fala e que se escreve na ilha, na madeira, onde continua a viver. ou pelo menos continua a viver a lontrinha e a mãe da lontrinha (minha nora, como ele me diz). Passa a vida a telefonar-lhe: compausas, com perguntas que depois ficam suspensas à espera de uma resposta "do outro lado". Um actor, este meu filho!
ontem deu-me um desenho, um calendário. a atestar as preocupações dele com o correr do tempo: os planos para daqui a um ano, quando entra para a escola, para depois... e depois.



terça-feira, 13 de setembro de 2011

aos soluços


parece que isto sai aos soluços. passo meses sem pensar nisto. dá para pensar que sentido terá. acho que no fundo há a ideia de o dar um dia ao joão, como lembrança de um tempo de que ele pouco recordará. mas é capaz de haver mais alguma coisa, não sei.
agora que desatei a escrever mais regularmente (contos, poesia) é possível que este registo me ocorra menos frequentemente. assim, lá tenho eu de recorrer aos apanhados dos últimos tempos.

há o Bichano, claro, que de certo modo apareceu para preencher o lugar deixado pelo chá-chá.
andei muito tempo a tentar catrapiscar um dos gatinhos brancos (talvez irmãos ou primos do chá-chá, pelo menos nasceram aqui perto) que vivem na casa abandonada perto das mónicas. mas eles mostravam-se ariscos e nada de se deixarem convencer pelos petiscos que lhes levava. acabei por desistir. um dia um vizinho (álvaro, pai do sandro, que vive perto da tal acsa e assisitu às minhas tentativas de engate) tocou à nossa porta: trazia um gatinho que tinha comprado na feira da ladra. E cá está ele. o nome foi escolhido por votação (viciada!): pusemos as várias hipóteses num papelinho dentro de um chapéu e tiramos um. O joão tinha posto miau-miau e bichano. eu pus bichano e bichano. a cereja tareco e bichano. o meu lóbi deu resultado, como se viu ;-)
há dias escrevi uma série de poemas (um velho camponês que fala da sua vida, a que lhe resta, e dos campos abandonados). Num delss fala do seu gatinho: é o bichano. era no bichano que eu estava a pensar:

um gato e eu cansado


nada pesa do meu cansaço
no incessante batalhar
deste gato buliçoso
que se inventa beligerâncias
saltos esquivos
arranques súbitos de garras em riste

os anos foram passando e com eles se apagam
os sinais que outros anos foram deixando
e que agora só a intocada felicidade
do gato
a expectativa paciente do cão
me fazem lembrar

(...)

porque é assim o gatinho: sempre alerta, sempre em guerra contra todo o tipo de inimigos imaginários: uma folha que se agita, um resto de papel que esvoaça. Eriça-se, põe-se de lado, em pose de ataque. e depois deita-se no meu peito, se me estendo no sofá, e põe-se a ronronar as aventuras que se calhar imaginou.

outras coisas:
fomo a braga, ao gerês e daí a santiago de compostela. dizem que quem lá não for em vida terá de o fazer depois de morrer. fica feito: sempre se poupa o trabalho e o susto.

vai sair em outubro o livrinho sobre monserrate, com o conto que escrevi, a alfaiata. escrevi-o a bem dizer para compensar o amadeu da "nega" da luisa (e através dela da hélia). há que as entender: são escritoras profissionais, vivem do que escrevem. e favores aos amigos
é como pedir ao merceeiro se nos pode ceder umas batatinhas e umas cenouras, mal acomparado. senti que de certo modo tinha criado falssas expectativas ao amadeu, que ficou assim pendurado, sem alternativa. e pus-me então a escrever um conto, com uma história que não sei de onde me veio. é que nem seuqer tinha ido alguma vez a monserrate. o que ali aparece vem do que li na internet sobre o parque e o palácio.
só há dias fui finalmente lá. com o eduardo, que tinha de tirar umas fotografias mais para serem usadas na capa do livro.
Se entretanto não houver nenhuma alteração, a capa ficará assim, com esta fotografia do eduardo:







e começou a escola.
este ano com o Gui tb na sala do joão.