quarta-feira, 18 de abril de 2012

lodão. lodoeiro




Há dias esteve cá o Richard. De passagem (andava a mostrar a cidade a uma amiga). Disse-me que no próximo livro dele há uma personagem que mora aqui no Largo. Perguntou-me o nome das árvores que aqui há, além da palmeira. Tive de investigar (na net, há uma lista das árvores dos jardins de Lisboa). São lódãos, ou lodoeiros, ou agreiras. Ficam bem a apajar a palmeira soberana, no meio, se calhar com a morte anunciada.
No Algarve, não tinham conta as palmeiras cortadas e doentes. Um mau sinal. O bicho já por lá passou: um escaravelho vermelhusco, com uma espécie de ferrão na cabeça. Foi o primeiro que vi, em Cabanas, mesmo no jardim do Manel.

Onda má



Nas férias da Páscoa fomos passar uns dias a Cabanas, em casa do Manel e da Teresa. E os filhos (adoráveis). Está quase bom do cancro com que teve de se haver há tempos, mas estava apreensivo com uns testes que tinha feito antes de vir para cá. De resto, sempre o mesmo: bom copo e bom garfo, e ótimo cozinheiro. Quase não dava para acreditar. Mas ele não esquece, e dizia: vê lá se agora não ficas tanto tempo sem aparecer. Antes que eu morra...
Sinto o coração apertado ao ouvi-lo.
Apareceu lá a Rosinha, também ela a debater-se com um cancro que parece curado. Mas quem pode esquecer que pode voltar? A vida dela levou uma grande volta.
Parece que os meus amigos andam todos em maré negra. A Nicha é o caso mais grave. O cancro (dos pulmões) é avassalador. Quando estou com ela vejo-a animada, cheia de graça, e de projectos. Mas ela avisa: não te enganes, isto é da morfina. Mas deixo-me enganar, como ela se deixa.
E a Luísa. Mas parece que no caso dela foi a tempo. Mas tem de estar sempre atenta. E vê-se que isso a consome.
Será dos tempos. Quando tudo se aperta à nossa volta e a vida de todos os dias deixa de ser como a de outros dias. Procuramos os amigos, à espera das coisas que não mudam, do que fica mesmo quando sopram ventos mais azedos. Todos buscamos um sítio firme onde ter pé quando sentimos subir a maré de infelicidade. E apercebemo-nos de que também nisso estamos juntos.