segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

PORIBDO TRNU


Gosto de me sentar na pequena poltrona do quarto do joão. ele não conhecia a palavra poltrona e a princípio chamava-lhe trono. e assim ficou, e agora é assim que lhe chamamos.
magnânimo, o joão disse-me que podia sentar-me lá para tomar o pequeno-almoço ou para tomar o chá, quando eu quisesse. aos fins de semana é que tinha de lhe pedir autorização. mas pelos vistos este direito ao trono não é indiscutível.
no sábado, o joão teve uma discussão com a cereja, fez uma birra e chamou-lhe nomes. Disse-lhe tu não prestas para nada e ooutras coisas do género, coisas que aprende com os outros meninos na escola. Quando depois me veio pedir para ver um filme (um dvd, que vê no computador, porque não temos televisão) eu disse-lhe que não, que estava de castigo por ter chamado nomes à mãe. Ele ficou furioso. Eu não liguei e fui para o meu quarto. Daí a pouco abre a porta e num tom vingativo diz-me. não posso ver filmes? Então não há trono para ninguém. E foi-se.
Mas não ficou por aqui. Colou na porta do quarto dele um aviso, numa letra esforçada, com desenho e tudo, a proibição decretada: PORIBDO TRNU, com um X por cima do desenho da poltrona, para o caso de eu não perceber à primeira.
Claro que depois lhe passou a birra e passamos o dia a brincar ao monstro das
cócegas e a fazer castelos e fortes com legos e playmobil. e foi ele que de papel na mão me veio dizer que já tinha tirado o aviso e que já me podia sentar no trono, que tinha tirado as coisas todas que lá tinha posto.
Mas depois do jantar, numa conversa calma, com ele a ouvir o que eu tinha para lhe dizer, expliquei-lhe que o castigo de um dia sem filmes, passaria para dois dias sem filmes se aquilo voltasse a acontecer. E que depois seriam três dias, quatro dias e assim por diante. Todos os filmes. Mesmo os que a tia lurdes anda a juntar para lhe oferecer. No fim ele disse está bem. E assim ficou decretado.
Mas no meio disto tudo, fiquei espantado com o cartaz dele. Sem saber ler, nem escrever, como foi ele arranjar maneira de se exprimir com tal clareza? É realmente a primeira coisa escrita por ele. Sabia escrever algumas palavras (mãe, pai, joão e pouco mais), mas de cor, sem compreender a lógica da formação das palavras. Caso para pensar que a necessidade faz o engenho. A verdade é que deu para entender o ultimato.

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