quarta-feira, 2 de maio de 2012

um mundo em aberto



Todos os dias, pela manhã, a caminho da escola, ou no regresso, o João vai-nos contando o que se passa na sua ilha. Ontem ao jantar contou que lá não há diferenças nos ordenados: quando vê que alguém ganha mil e outro só ganha cem, ele diz: tu também passas a ganhar mil. E como ele é o único que decide na ilha, é assim que ficam as coisas.
Ontem tinha ido à manifestação do primeiro de Maio, com a Cereja e a Filipa. Eu fiqeui em casa a curtir uma gripe que não me larga. Veio de lá a repetir as palavras de ordem. Depois pediu-me para as escrever. Quer levá-las para a escola. Também à volta dele toda a gente fala em crise e em problemas no trabalho. As preocupações sociais devem vir-lhe daí.
Na escola devem ter falado no 25 de Abril. E o João disse-nos que tinha contado na sala que eu tinha dito ao Salazar que não queria ir para a guerra matar gente que não me fez mal nenhum e depois fui-me embora para França. É a versão dele do "meu" 25 de Abril.



Vê-se também por outras coisas que começa a querer organizar o mundo. Há dias fez um desenho do quarto (e pediu-me para pôr lá, no desenho, um relógio, não sei porquê) está lá tudo: o pequeno candeeiro (agora partido), a cama, a estante, e um desenho com a nossa família toda sorridente e de mãos dadas. Fez também um desenho da nossa família e da nossa casa. E um desenho para mim, só para mim. Deve ser para "compensar" os muitos que faz para a Cereja.
Todos os dias lemos uma história e agora o joão quer sempre ler os títulos. Quase sempre consegue. Não é que nós alimentemos o esforço. Preferimos que siga o ritmo da escola. Além disso, nestas tentativas ele segue o método fonético (juntando as sílabas) e como na escola seguem (seguirão...) o método global, não queremos interferir e criar confusões, que não sabemos resolvar. Tem tempo! Mas vê-se que anda impaciente por começar a ler. E ir para a escola dos crescidos. E aprender as coisas todas que ainda há para aprender.


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