segunda-feira, 4 de outubro de 2010

"Já sabes como eu sou"

devez em quando o João aparece com expressões novas, que nunca lhe ouvimos e que nem sequer as pode ter aprendido em casa. Claro que as traz da escola, dos amigos ou das auxiliares ou da Marta. Às vezes o contexto escapa-lhe e usa-as a despropósito. Mas percebe-se que ele se apodera daquilo que lhe serve para pôr ordem no seu mundo, para nomear o que vaidescobrindo, para exprimir novas emoções e sentimentos, que também vai descobrindo. Muitas delas, ultimamente, parecem escolhidas para delimitar o seu mundo pessoal, para afirmar a sua individualidade, a personalidade, a sua existência como pessoa independente do resto, de nós. Diz: "Ó pai, por amor de deus, então não vês que..."; diz: "Então tu pensavas que eu ia fazer uma coisa dessas? ou: então pensavas que eu ia agora desenhar isso?" E às vezes: "Já sabes como eu sou...".
Engraçado, mas pode ser coincidência, é que o nome, que ele já sabia desenhar, agora tem um traço a toda a volta, como num mundo só dele, realmente.



Ao mesmo tempo, também o resto das coisas se tornam possivelmente mais individualizadas: ganham existência para além dele. O traço torna-se tb mais definido. e reconhecí
vel: o gato, com as suas quatro patas, os bigodes, as orelhas, a cauda... O Comboio tem carruagens e até os trilhos. O Barco Pirata uma quilha e uma bandeira bem distintos. E até a Lontra (feita no Fluviário de Mora, com os meios de bordo, que lá estão à disposição dos visitantes), só a uma cor, temk um perfil definido, com patas e uma cabeça.
Sente-se o esforço dele para organizar o mundo que o rodeia (ainda tão vário e caótico). E sente-se (vê-se!) também a dificuldade que isso é, os sentimentos contrários, as frustrações, a impaciência...










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